Parte I
Crise? Sim, chamemos-lhe "crise" por uma questão de facilidade de nomenclatura, apesar da palavra não querer designar o significado que lhe estão a atribuir neste momento. Há quem pretenda fazer crer que a actual conjuntura resulta duma verdadeira crise económico-
-financeira, mas a verdade é que aquilo que temos é uma crise de bom-senso. Falta bom-senso à maioria de todos nós.
Felizmente, as pessoas hoje em dia já não se encontram de olhos completamente fechados como antigamente, claro que esta observação é subjectiva, pois, desde sempre houve gente atenta às situações e que nunca se deixou enganar por todas as mentiras que foram pregadas ao longo dos tempos. E em contrapartida, com toda a informação disponível, que temos hoje, ainda podemos encontrar demasiadas avestruzes com a cabeça enterrada na areia!

Destruiu-se a qualidade do ensino. Destruiu-se o sistema público de saúde. Destruiu-se a parca qualidade de trabalho que ainda havia. Destruiu-se a segurança e a tranquilidade. Continua a destruir-se uma sociedade, uma nação (aliás, várias, mas neste caso refiro-me apenas à portuguesa) para que determinadas entidades empresariais e financeiras estrangeiras, e algumas nacionais, possam obter "lucros" de forma fabulosa e escandalosamente astronómicos .
Nos últimos anos o país tem sido governado (melhor dizendo, desgovernado e saqueado) por uma cambada de incompetentes diplomados. Não que sejam diplomados em incompetência, mas, sim, porque possuem um diploma duma coisa qualquer e não deixam de ser incompetentes nos cargos e funções que ocupam (ou ocuparam) e na responsabilidade que deveriam ter nos Governos que integram (ou integraram). Podem intitular-se engenheiros, advogados, economistas, ou seja lá o que for, mas está provado que tudo o que aprenderam na Faculdade e os doutoramentos que fizeram de pouco serviram ao colectivo nacional, ao povo, ou à nação, como queiram designar o povinho que não consegue eleger gente decente que nos governe. Se possuir um diploma servisse para governar um país, então, o mundo não teria chegado ao caos em que nos encontramos.
Esses doutos e sábios tecnocratas andam a tentar fazer-nos crer que é mais importante o país pagar, aos credores/agiotas/especuladores estrangeiros, as dívidas contraídas por políticos inconscientes, irresponsáveis e maus alunos, do que cuidar da qualidade de vida da sua população! Será que alguém de bom-senso consegue acreditar numa barbaridade destas!? Eu não acredito, mas ainda há quem se convença que os políticos têm razão e passe a vida a andar atrás deles e a aplaudi-los nas suas patéticas actuações circenses. Afinal de que servirá pagar as dívidas se já não houver gente para usufruir de vida com qualidade?

Por exemplo, disseminou-se a ideia de que o Primeiro-
-Ministro Vasco Gonçalves (1974-75) era louco (talvez por ter militado na esfera do Partido Comunista). Durante os seus Governos, juntamente com o Ministro das Finanças Silva Lopes, os funcionários públicos foram aumentados de forma "degressiva", o que isto quer dizer? Significa que receberam maiores aumentos quem ganhava menos, e menores para quem já recebia salários mais elevados [ver Decreto-Lei n.º 372/74]. E hoje o que vemos? Aumentos de igual percentagem para toda a gente, significam que cada vez mais se vai aumentando o fosso entre quem já ganha muito e aqueles que pouco recebem. Foi também considerado louco por ter realizado nacionalizações como as das empresas petrolíferas, que deram origem à Petrogal, bem como a nacionalização da Banca, por exemplo. Hoje assiste-se à entrega à gestão privada de empresas que são lucrativas e que poderiam subsidiar as despesas do Estado. Somos testemunhas de PPP's (parcerias público-privadas) que servem para roubar o dinheiro dos contribuintes e financiar os lucros de meia-dúzia! Gestores de empresas privadas que já foram ministros, gestores no público e no privado, etc. Uma pouca vergonha. Os diversos Governos adeptos das privatizações sempre afirmaram, e continuam a afirmar, que "gerir empresas não é uma função governamental"; mas, parece-me que realizar despesas sem controlo e sem gerar receitas já deve ser uma função governativa, será assim? Se os Governos não são adeptos das nacionalizações porque terão nacionalizado um Banco falido de forma fraudulenta, e, como não são adeptos de nacionalizações, devolveram-
-no às mãos dos privados com prejuízos à custa do dinheiro dos contribuintes? E se as ideias de Vasco Gonçalves eram loucas por que não terá o país melhorado, desde então, com as gestões dos Governos defensores do capitalismo liberal, neoliberal ou ultra-
-neoliberal!?

Pensemos nisto e reflictamos...
Não entrando em detalhes de quem tem razão ou com que finalidade se fazem certas coisas em determinados países, pelo menos uma coisa é certa, a antiga Primeira-Ministra da Ucrânia, Iúlia Timochenko, foi condenada por abuso de poder ao ter efectuado negócios com a Rússia prejudiciais ao seu país. E por cá, quando será que iremos poder ver os responsáveis pela ruína deste país sentados no banco dos réus? A esses são-lhes atribuídas as cadeiras presidenciais dos Bancos ou das empresas privadas...
É bem verdade que os países comunistas não mostraram ser melhores que aqueles onde se vivia, ou vive, uma economia de mercado. Mas, por outro lado está provado que o sistema capitalista não pode ser livre (ou liberal) para fazer o que bem apetece por parte de quem detém o capital. Por gentileza, aplique-se urgentemente um novo sistema funcional às sociedades deste planeta...
Que o fim esteja próximo, pois só terminando a descida poderemos voltar a subir... Quem sabe, 2012 não seja o fim da crise! Excepto se o FMI não permitir ao Governo despesas extras com a celebração do fim do mundo...

Parte II
Vídeo EuroNews:
Brasil ultrapassa Reino Unido
As notícias apresentam já o Brasil como uma "economia" que acabou de ultrapassar o Reino Unido, bem como uma tabela onde brevemente não existirão "economias" europeias nos 10 primeiros lugares, mas, sim, uma outra onde estarão incluídos países como a China, o Brasil e a Índia. Estes países, como todos sabemos, são "economias" que funcionam à base de mão-de-obra paga com baixos salários ou até mesmo escrava. A realidade é que todas as pessoas procuram ter uma vida melhor, mais facilitada, mais justa e mais alegre, sem sofrimento, sem falta de meios para cuidar da saúde, sem fome e sem falta de habitação condigna. E o que vemos nós? Entretemo-nos a ver o capital (que não tem fronteiras) a voar duns países para outros, geralmente daqueles onde foi permitido às pessoas alcançarem um nível de vida razoável ou bom (e até mesmo exageradamente luxuosa, nalguns casos) para os outros onde se dá primazia à falta de respeito pelos direitos humanos, laborais, dos animais e da Natureza. Reconheço que muito do bem-estar que se alcançou na Europa e nos Estados Unidos (e não só) foi conseguido à custa do prejuízo de outros povos, como os africanos, os asiáticos e os latino-americanos. Agora chegou o momento dos países evoluídos começarem a colher o que têm andado a semear. A sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória.

Dizem-nos constantemente que "temos que ser mais produtivos", gostaria de saber como isso será possível! Poderá um record olímpico ser constantemente melhorado? Poderá o tempo que um atleta leva para percorrer 100 m ser cada vez inferior ao anterior? Da mesma forma, poderá a competitividade aumentar indefinidamente? E, afinal, terão os portugueses, e outros povos, que ser mais competitivos que quem? Que os chineses, que os indianos, ou que os alemães? Terão os alemães mais horas de trabalho que os portugueses? Terão menos feriados? Terão um salário inferior? Ou terá, por exemplo, a tão badalada economia emergente do Brasil deixado de festejar o Carnaval para ser mais competitiva? Não creio (tenho a certeza) que a solução não passa pela escravatura dos trabalhadores portugueses, gregos, ou outros, mas, sim, por aplicar novos moldes de funcionamento à sociedade.

Nunca na História da Humanidade (na História da presente Humanidade) houve tantas facilidades como as que existem hoje. Nunca houve tantos técnicos de saúde, nunca existiram tantos instrumentos hospitalares, nunca houve tantos aparelhos para tudo e mais alguma coisa, nunca houve tantas máquinas e armas de guerra e nunca houve tanto dinheiro em circulação, tal como nunca houve tantas guerras violentas como hoje. Por falar em dinheiro, será que ele tem crescido nas árvores ou tem vindo a ser impresso conforme os Bancos Centrais de cada país vão arrecadando ouro atrás das grades dos seus cofres-fortes? Parece-me que nem uma coisa nem outra. O dinheiro em circulação não tem contravalor em ouro. Os economistas não conseguem perceber nada de coisa alguma. As agências financeiras agem a seu bel-
-prazer. Tudo não passa duma farsa. Uma teia bem urdida mas mal desempenhada pelos seus protagonistas. No fim de contas, a verdade é como o azeite...
Se esta fosse uma verdadeira crise como seria possível vermos ministros, ex-ministros, banqueiros, parceiros e familiares duns e doutros gozando de boa vida? Se esta crise fosse real como se poderiam apresentar automóveis com preços escandalosamente exorbitantes no Salão de Genebra? Como se poderiam encontrar, ainda, tantos restaurantes repletos de gente com dinheiro? A crise (ou falta) de dinheiro existe, sim, mas não é para todos, é só para a grande maioria. A crise real existe, sim, mas é na falta de bom-senso da maioria das pessoas, tanto na cabeça daqueles que governam sem escrúpulos, como na daqueles que detêm o capital, como ainda na daqueles que se deixam governar sem questionarem o que está certo ou errado, ou mesmo na daqueles que tendo percebido a diferença, entre o bem e o mal, nada fazem para dar a volta à situação.

Note bem: "melhorar o mundo" não significa tentar moldá-lo consoante o desejo do egoísmo de cada um mas, sim, fazer aquilo que consideramos justo para todos, para o conjunto, para o colectivo, para a sociedade, enfim, para a humanidade.
O mundo, ou melhor, as pessoas que nele habitam, necessita de sociedades mais justas e equilibradas, em duas palavras: mais conscientes. É aquilo que falta neste momento, consciência. E o que significa isso? Quer dizer que o comunismo não resultou... que o capitalismo "selvagem" também não e que na Europa, região onde se estavam a construir sociedades baseadas na protecção das pessoas, onde estas tinham mais importância que o capital, mas onde os países todos em conjunto decidiram rumar em direcção à tentação americana do sonho neoliberal, tudo acabou por fracassar.

Muro de Berlim
Desemprego EUA
É preciso estarmos cientes de que sem equidade o mundo fica desequilibrado e havendo injustiças continuarão sempre a existir indignação, revoltas, violência e insegurança. Diz o ditado que um bom negócio é aquele que beneficia ambas as partes. Que negócio será este onde estamos metidos, em que só um dos interessados fica com a parte de leão e o outro sem nada na mão!? Negócio será, mas bom não está a ser...
João Galizes

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