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20.3.12

Ocupar Wall Street

   

   «Ocupar Wall Street: que outro movimento político contemporâneo soube ganhar a simpatia e/ou apoio da maioria dos americanos em menos de dois meses? Como foi isto possível? Eu creio que esta revolta se formou lentamente ao longo do tempo e através dos Estados Unidos desde o dia em que Reagan mandou despedir os controladores de tráfego aéreo.* Esta gestação silenciosa culminou em 17 de Setembro de 2011, quando um grupo de pessoas, composto maioritariamente por jovens, decidiu passar directamente à acção. Isso, sem dúvida, tocou num ponto nevrálgico e gerou uma onda de choque em todo o país. O que esses jovens estavam a fazer era aquilo que dezenas de milhões de pessoas desejavam fazer. Pessoas que perderam os seus empregos, as suas casas, o seu "sonho americano". Esses milhões fizeram uma catarse entusiasmando um montão de insolentes que se plantaram em Wall Street a gritar: "Daqui não saímos até que nos devolvam o nosso país!"
   »Ainda bem que não criaram uma organização formal com regras hierárquicas, quotizações, estruturas, líderes carismáticos e porta-vozes oficiais – todas essas coisas que os pais lhes disseram que deveriam fazer se desejassem conseguir alguma mudança – esses jovens abriram um espaço no qual as pessoas puderam sentir-se parte de uma rebelião pelo simples facto de estarem a apoiá-la. Quer ocupar o Banco local? Avance! Quer ocupar a Reitoria da Universidade? Isso mesmo! Quer ocupar Oakland, Cincinnati, Grass Valley? Fantástico! Este é o seu movimento, poderá fazer com ele o que quiser.
   »No passado, quando se queria lançar um novo movimento, primeiro era preciso alertar o povo sobre os problemas que se procuravam resolver, e depois havia que mobilizar as pessoas para aderirem à causa. Transformar a América numa nação não-racista, pacífica e livre de preconceitos sexistas ou homofóbicos levou anos – e, no entanto, ainda há muito por fazer. Mas o movimento dos Ocupas não teve que fazer nenhum esforço para nos convencer de que Wall Street é dominado pela ganância, que a única coisa que importa aos Bancos é o dinheiro ou que as grandes multinacionais apenas querem espremer os trabalhadores. Qualquer pessoa entende isso, mesmo aqueles que se opõem aos Ocupas de Wall Street. A parte mais difícil de qualquer movimento jovem – obter uma maioria – foi conseguida. As pessoas estão connosco. E agora?

   »Em primeiro lugar, o que não fazer. Ocupar Wall Street não deve tornar-se numa organização burocrática, com escritórios e estruturas hierárquicas, isso iria destruí-la. Os Baby boomers que cresceram dentro desse tipo de organizações têm que se refrear um pouco e não tentar limitar o movimento dentro do velho paradigma de "enviamos alguém ao Congresso e, depois, criamos um lobby para aprovar as leis que queremos." Deixemos os Ocupas de Wall Street seguir o seu caminho. Certamente, os candidatos a cargos públicos de que precisamos estarão dentro do movimento (será você um deles? Por que não? Alguém terá que ser, e é melhor para si), e as leis que são necessárias para que este país se torne mais justo chegarão a seu tempo. Não me refiro a décadas: algumas leis serão aprovadas ainda este ano. O principal candidato para representante do meu distrito, em Flint, Michigan, está empenhado em lutar, uma vez eleito, para afastar o dinheiro da política. Outros candidatos seguiram o seu exemplo. Temos que votar neles e, em seguida, garantir que mantêm a sua palavra. Os Ocupas devem prosseguir como um movimento decidido e frontal ocupando Bancos, sedes, conselhos de administração, campus universitários e a mesmíssima Wall Street. Temos que montar assaltos não violentos em Wall Street todas as semanas, ou mesmo todos os dias. Não fazem ideia de quantas pessoas estariam dispostas a viajar até Nova Iorque, vindas de todo o país, para participar nas ondas de detenções em massa quando eles/nós tentamos fechar a porta a essa máquina assassina e à roubalheira que é Wall Street. A cada ano, 45.000 pessoas morrem por não ter seguro de saúde. Não acha que elas devem ter familiares, amigos, vizinhos e membros das suas comunidades que estejam indignados com isso? E os 4 milhões de compatriotas que têm que entregar as suas casas aos Bancos? Creio que não será muito difícil reunir alguns deles para que venham reclamar o encerramento de Wall Street! 

 
   »Em cada cidade americana há que fazer o mesmo. Devemos ocupar a frente das casas que forem entregues aos novos donos depois dos anteriores proprietários terem sido expulsos por não conseguirem pagar as hipotecas. Há que impedir, de forma não violenta, que os Bancos expropriem essas propriedades deixando as pessoas na rua. Quando alguém não pode receber os cuidados médicos de que necessita, os seus vizinhos devem ocupar o hospital ou o lobby da companhia de seguros. Quando uma Universidade aumentar as propinas pela milésima vez, os alunos devem ocupar a Reitoria da Universidade até que o conselho de administração decida retroceder.
   »É importante, no entanto, lembrar o óbvio: o objectivo dos Ocupas de Wall Street é ocupar Wall Street. Os restantes "Ocupas" que surgiram por solidariedade em todo o país podem atacar os tentáculos, e os sintomas da besta, mas a cabeça do monstro tem que ser cortada no seu covil. Este localiza-se na baixa de Manhattan, o lugar onde o movimento começou e onde deve permanecer.
   »Os nossos jovens – o coração e a alma deste movimento – que há anos temos vindo a ver bater com a cabeça nas paredes do poder, caminhando vezes sem conta para Washington, a enviar cheques aos grupos ambientalistas, tornando-se vegetarianos, etc. O que tiraram a limpo de tudo isto é que eles serão a primeira geração a estar pior que a dos seus pais. No entanto, ainda continuam a gostar de nós (o que é notável, considerando o mundo desastroso que lhes vamos deixar como herança), mas seguiram um caminho diferente do nosso. Não sabem onde esse caminho os irá levar, mas essa é precisamente a beleza dos Ocupas de Wall Street. Os milhões de indivíduos que querem fazer parte desta aventura sabem que não têm alternativa: são mais que os homens de Wall Street, que agora ocupam os Estados Unidos. Sabem, por isso, que só lhes resta a vitória.»



* NOTA DO EDITOR: Em 5 de Agosto de 1981, o presidente Ronald Reagan ordenou o despedimento de  11.345 controladores aéreos em greve que se negaram a retomar as suas tarefas. De alguma forma, este episódio marcou o início das Reaganomics, a política de regulamentações pro-mercado de Reagan.


Michael Moore, The Nation
Tradução da versão espanhola de:  Claudio Iván Remeseira

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